RECONTANDO

No inverno de 1989, no Bairro de Vila Izabel , em Curitiba, o Proálcool iniciava sua grande trajetória. Sonho de jovens saindo da adolescência que tinham em sua mente apenas uma coisa, diversão. E nesse mesmo improviso costumeiro, Zinho e Naylor inscreveram o time montado nos últimos instantes para o Campeonato de Areia do BECA. Esse local era o antigo celeiro de jogadores para os times profissionais de Curitiba. Da mesma forma escolheram o nome “Proálcool”, para o que seria no futuro, a eterna lenda dos campeonatos da vila. Naylor, Zinho, Piná e Julinho tinham que escolher a camisa para essa competição e foram a uma loja tradicional de materiais esportivos - Fedato - para eternizar o primeiro manto, mas como vocês podem imaginar, nesse período, todos nós éramos duros, e por isso tivemos poucas opções de escolha, e com a aprovação surpreendente de um flamenguista roxo, Zinho, escolhemos a camisa cruz maltina, que era por coincidência a mais barata. Todos os times adversários eram formados por amigos e conhecidos da região, e por isso, tínhamos um motivo especial para provar a supremacia do nosso futebol. O primeiro elenco era uma mescla da nossa panelinha da Vila: Piná, Naylor, Zinho, Julinho com colegas de trabalho e faculdade: Dinho, Rochinha, Marquinho e Afife. É muito bom relembrar as histórias dessas grandes batalhas, e elas não estão apenas em nossas memórias, mas estão ainda lá, no Beca, misturada com a areia, com o suor e com o sangue de cada um de nós. Lá o território a ser conquistado não era retangular, como todas as quadras esportivas que conhecíamos, sua área não era simplesmente lado vezes altura...era muito mais difícil... era muito mais simples ocuparmos todos os espaços e dividirmos a bola com os pés, solas, tornozelos e também com os postes de iluminação, estrategicamente colocados nas laterais do campo. Perdemos apenas um jogo no Beca, justamente o primeiro em 3 campeonatos, e foi justamente essa derrota que nos ensinou que apesar de nos conhecermos por mais de 10 anos precisaríamos de algo mais...Esse algo a mais não eram apenas chopps da Brahma no Alemão e cervejas com os batuques nos bares da Vila, era compreendermos a limitações técnicas e físicas de cada um. E foram assim nos três campeonatos: brigas, risos, piadinhas e apelidos muitas vezes sem explicações. O tempo passou e provar que realmente nosso grupo era o melhor já não tinha a mesma importância e quando mais uma vez passávamos com a taça entre olhares baixos e os sussurros dos incrédulos, exibiamos não só a nossa conquista mas também mostrava a nossa união.
Mas nesses campeonatos conquistados não ficaram apenas as taças de latão e medalhas ocas...ficaram para sempre as amizades feitas dentro das quatro linhas e também as feitas fora do jogo, muitas delas feitas nas grades enferrujadas do BECA, onde todos ficávamos pendurados com os olhos fixos na bola e outra na Skol. E foi assim que descobrimos que em lugar nenhum de Curitiba haviam pessoas tão folclóricas como: Alô, Maé, Zico, Jorjão, Choco, e tão exóticas como: Valmor, Ademar, Guinho, Paulão, J. Maria, Kutimi, Guiná, Pio, Vica, Pedro Tana, Os borracheiros, Lito com seu jeito diferente de se expressar... Pois é, talvez venha daí a minha amargura, quando passo pela rua Tamoios e vejo os senhores grisalhos utilizando aquele espaço para longas partidas de bocha em um silêncio quase fúnebre, isso faz ferver minha alma e revivo tudo o que passei ali os gritos de gol, os fogos de artifícios, os batuques de um samba de Noel, as cervejas tomadas com o gozo das vitórias e também o simples prazer de competir. Com o tempo e as conquistas consecutivas, o nosso Glorioso agregava a cada dia mais simpatizantes e atletas, outrora adversários, mas agora aliados com apenas um ideal, de ser cada vez mais forte. O número de atletas faziam com que o -Carlão- buscasse novos horizontes, e a sua decisão que para muitos era um passo muito grande veio depois a se confirmar quando estreamos em um jogo de futebol de campo no Santa Quitéria, vencendo uma equipe já experiente nesse piso com dois gols de Camelo. Chegava então a nossa maturidade com tantas conquistas mas também cresciam nossas responsabilidades que dividíamos nas reuniões quase que diárias no Bar Ponte Preta (Ademar in memorian). Quando nossa primeira sede fechou, fomos recebidos como filhos pela tia Célia, em seu estabelecimento, e foi ali que redigimos a primeira ata, assinada pelos, na época, alunos de direito Naylor e Eduardo Mãos de Tesoura. O destino também marcou o Proálcool nesse bar com a escolha da nova camisa, de uma maneira quase surreal, quando um vendedor mascate em pleno século XX, tinha no meio de suas tranqueiras muitas camisas de futebol na sua maioria de clubes estrangeiros, mas foi só uma que nos chamou a atenção, a do Internacionale de Milão, utilizando o padrão tricolor - azul roial, preto e branco. Nesse dia ele tinha apenas uma peça, então ficamos ansiosos quando ele disse que traria mais 15 camisas no próximo mês justamente para estrearmos no Clube Mercês.
Bem o Clube Mercês foi um capítulo a parte na nossa história, foi lá a nossa casa durante uma década, e todos nós teremos pelo menos uma história pra lembrarmos. E elas não se restringiram apenas nas vitórias no futebol de campo, nem no Tri Campeonato do torneio do Trabalhador, lá fizemos também festas de casamento, aniversários, separação, despedidas de solteiro e outras, não muito convencionais. Não podemos também nos esquecermos do heróico Título no suição em Shangrillá, e como foi bom "desmoralizarmos" os boleiros locais e também um time de mascarados, que na época, eram tetracampeões paranaense de futebol profissional (Saulo, Adoilson, Edinelson...). Como podem notar esse é apenas um breve resumo de nossa história, ainda estou aguardando que todos vocês relembrem de fatos não mencionados, porque oque faço não é para mim ou para poucos, nossa história é uma lição de vida, é uma vida, o Proálcool é de todos.